C'est la vie!

Não é sempre que se tem inspiração para escrever. E nesse último ano também foi difícil arrumar um pouco de tempo. Muita coisa se passou e muitos pensamentos povoaram a minha mente. É por isso que só depois de um pouco mais de um ano que estou retornando aos Pensamentos Brúnnicos.

Desta vez não vou falar de um projeto artístico ou de um momento nostálgico. Hoje, vou fazer um desabafo! Descobri que em alguns momentos colocar as ideias em um papel, nesse caso em um blog, faz você refletir melhor. Por isso estou escrevendo mais como uma terapia para mim do que para outras pessoas. 

Muitas coisas acontecem em nossas vidas em um ano. Eu por exemplo, terminei o curso na universidade, comecei a trabalhar, saí do trabalho, fiz um curso de corte e costura e neste momento estou realizando um sonho, fazer intercâmbio! 
Mas como tudo na vida, nada são flores. Tudo possui seu lado bom e seu lado ruim. Algumas pessoas aprenderam a lidar muito bem com todo esse vai e vem da vida, outras ainda passam dificuldades, mas assim são as pessoas e é por isso que cada uma é única. 
Eu, por exemplo, sou uma das pessoas que não sabem muito bem o que fazer quando algo completamente inesperado acontece. Por mais que eu tente meu cérebro trava e eu não consigo encontrar uma saída. É como se eu ficasse cega por alguns instantes. Eu tento me aconselhar com as pessoas em quem mais confio, mas as vezes isso não funciona muito bem e eu acabo ficando mais perdida do que antes.

Pensei em escrever este post não para contar todos os momentos ruins que aconteceram comigo, que não foram muitos, mas para mostrar a quem passa por problemas parecidos que isso pode acontecer e que não é o fim do mundo (digo isso a mim todos os dias quando levanto, as vezes funciona, mas quando não funciona eu me obrigo a seguir em frente, sempre em frente. Esse é o segredo!).

Para tentar explicar o que vou dizer é importante deixar bem claro duas coisas: 1) Eu sou uma sonhadora descontrolada, extremamente ansiosa e estou constantemente em guerra com meus sentimentos. Sim, eu penso muito, sinto demais e espero ainda mais. Não, isso não é de tudo bom. Porque? Bem, por que isso te faz criar expectativas e se tem uma coisa que aprendi é que na maioria das vezes elas não acontecem como imaginamos, muito pelo contrário. 2) Mesmo tendo 24 anos essa é a primeira vez que moro fora de casa. Com ''morar fora de casa" eu quero dizer viver em um lugar onde não estejam meus pais, meu irmão e todo o resto da minha enorme família. Mesmo que eu saiba e entenda que existem outras formas de viver do que aquela da minha casa, ainda é difícil (e está sendo mais do que imaginava) enfrentar toda essa diversidade sozinha. 
Eu sempre vivi cercada de pessoas da família, eu não costumava dormir na casa de amigas, eu não saía todos os fins de semana a noite. Eu praticamente vivia uma vida caseira e imaginava que a minha casa e o modo de vida da minha família eram como uma gaiola, uma prisão que me impedia de ver o mundo.

Quando decidir fazer o intercâmbio eu imaginava inúmeras coisas, pensava em viajar para todos os lugares que eu pudesse, em fazer milhares de amigos e ganhar irmãos novos, talvez mais legais que o meu próprio irmão. Esse foi o meu maior erro! Quando você tem uma vida e os sentimentos como os meus, criar expectativas sobre coisas tão incertas como a família que você vai conviver, o trabalho que você vai frequentar e os possíveis amigos que vai fazer é um grande tiro no pé. Como eu disse mais acima, as coisas nunca acontecem como você espera! 

E eu vivi isso na pele! Meu intercâmbio não começou como eu imaginava. Em vez de ser recepcionada por toda a família apenas o pai foi me buscar. Eu já sabia que a mãe estava viajando, mas eu esperava que pelo menos o filho que mora com eles aparecesse. Eu tinha recebido algumas informações sobre cada um deles, o que faziam e o mais perigoso, a idade do filho mais novo. Eu digo perigoso por que, como temos quase a mesma idade, cometi o erro de achar que seríamos, de cara, melhores amigos, que ele me levaria para conhecer lugares legais e que me ajudaria a melhorar o idioma estrangeiro. Por mais que meu namorado me avisasse para não criar expectavivas, o que é praticamente uma enorme guerra interior pra mim, eu não fui forte o bastante.
Por isso, foi um choque enorme pra mim chegar e não encontra-lo. Pior ainda foi quando o encontrei ele pela primeira vez. Ele me pareceu indiferente, sem nenhum interesse ou eu simplesmente posso ter interpretado errado.
Imagine você, com milhares de expectativas inúteis na cabeça tendo que conciliar o "choque" com uma nova cultura, a compreensão de uma nova língua e o receio de exagerar ou fazer alguma coisa errada. Sim, eu tive receio de ultrapassar meus limites com o filho, tive medo de invadir seu espaço, de fazer algo que o desagradasse e que tornasse a nossa convivência um inferno. Eu tentei imaginar como seria difícil para um jovem de 20 anos ter alguém que ele nunca viu na vida dormindo no quarto ao lado, dividindo o mesmo banheiro e os espaços comuns da casa. É difícil eu sei, e por isso eu evitei me intrometer na vida dele. Agora, eu começo a achar que esse pode ter sido meu erro. Talvez eu tivesse tanto medo de exagerar que acabei não insistindo o suficiente em ter uma boa relação com ele. 

Eu ganhei pais maravilhosos que realmente superaram minhas expectativas. A mãe é fantástica, me trata realmente como uma filha, o pai me dá conselhos e nós costumamos conversar sobre as coisas da vida e os planos para o futuro na hora do jantar. Porém, meu irmão hospedeiro sempre me parece distante, talvez tenhamos conversado umas 2 vezes em 4 meses. Com "conversa" eu quero dizer algo com mais de um minuto onde existem mais perguntas do que: Oi, tudo bem? Passou bem o dia? Tem alguma coisa pra comer? Onde eu coloco isso? Como está indo o curso? (perguntas que geralmente eu que faço).

E para melhorar tudo os pais viajaram. Era uma viagem programada ha muito tempo e eu não poderia fazer nada a não ser dar a maior força para que eles fossem se divertir. Eu imaginava que com a convivência eu e o filho teríamos uma melhor relação. Mas como eu já disse várias vezes e volto a repetir, expectativas são a maior furada! Acho que como não tivemos muito tempo juntos antes da viagem, não sei se por minha causa ou por causa dele, a situação continuou a mesma. Eu me sentia muito insegura em conversar com ele sobre o que eu estava sentindo, eu já tive 20 anos e sei que as vezes a gente está pouco se importando para conversas desse tipo. E como ele me pareceu sempre distante eu tive a impressão de que não seria uma boa ideia falar com ele sobre esse assunto.
De qualquer forma, essa situação foi se arrastando até o momento em que levei o maior susto. Foi uma coisa tão inesperada que eu só conseguia pensar em sair da casa. Antes de falar com ele, entrei em contato com todos que eu conhecia e que poderiam me ajudar, meu namorado, a mãe hospedeira e o pessoal da organização que cuida dos intercambistas. O primeiro e o ultimo me aconselharam a sair de casa. Ficar com uma amiga até os pais voltarem. E assim o fiz. Falei com minha amiga, pegamos minhas coisas e na hora de sair acabei me encontrando com o irmão hospedeiro. Apesar de ter conversado com ele, na verdade foi mais um desabafo que uma conversa, eu estava tão assustada que acabei indo embora, mesmo ele tendo explicado tudo. 

Faz quatro dias que sai de lá. Agora que as coisas estão mais calmas penso de uma outra forma sobre tudo o que aconteceu. Ainda fico com mal estar no estômago só de pensar em voltar para a casa sem os pais hospedeiros. Mas a família em que estou no momento tem viagem programada, planos feitos ha meses e eu me sinto atrapalhando tudo isso!

Esta é uma situação que não desejo a ninguém, mas é algo que pode acontecer em qualquer intercâmbio. Não que aconteça exatamente a mesma história, mas é mais normal do que imaginamos que a gente acabe não se dando bem com alguém da família, ou que aconteçam algumas coisas que a gente não saiba muito bem como lidar.

Eu ainda não sei como tudo vai terminar. Sei que vai ter um fim, como todas as coisas na vida, mas estou tentando com todas as minhas forças não criar expectativas. Estou tentando pensar da melhor forma possível e aprender de alguma forma com tudo isso.

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